Elegante, sedosa e feita com poucos ingredientes, a panna cotta é o tipo de sobremesa que transforma um jantar simples em um final memorável. A sua textura cremosa, aveludada e levemente tremelicante conquista ao primeiro toque da colher. A seguir, você aprende a versão clássica com proporções infalíveis, a técnica certa para trabalhar a gelatina e ideias de coberturas — inclusive com frutas brasileiras — para servir como um chef.
O que é panna cotta e suas origens
De origem piemontesa, no norte da Itália, panna cotta significa “creme cozido”. A base é uma mistura de creme de leite, açúcar e um agente gelificante suave, que se firma na geladeira. Ao longo do século XX, a sobremesa percorreu a Itália e ganhou o mundo por seu preparo simples e resultado refinado, tornando-se presença constante em menus contemporâneos.
Diferenças para bavaroise e pudins
A panna cotta não leva ovos: sua estrutura vem da gelatina, por isso é mais leve e translúcida. Já a bavaroise (ou bavarian cream) nasce de um creme inglês com gemas, ao qual se junta gelatina e, muitas vezes, chantilly — é mais rica e aerada. Pudins e custards tradicionais (como crème caramel) firmam pelos ovos, geralmente assados em banho-maria, com textura mais densa e cremosa.
Clássicos de sabor
Na versão clássica, a baunilha reina, seja em fava ou extrato. Outras aromatizações tradicionais incluem café (infusão suave), cacau, cascas cítricas e licores como amaretto, rum ou conhaque. Esses perfumes ressaltam a doçura discreta e a delicadeza do creme.
Ingredientes e proporções ideais
Para uma panna cotta com textura aveludada, estas proporções formam uma base equilibrada e fácil de personalizar.
Base equilibrada
- 500 ml de creme de leite fresco (35% gordura)
- 250 ml de leite integral
- 70 g de açúcar (ajuste para 60–80 g conforme seu paladar)
- 7 g de gelatina incolor sem sabor (em pó) ou 4 folhas (6–8 g), ajustando a firmeza
- 1 fava de baunilha (sementes + fava) ou 1 colher de chá de extrato puro
- Pitada de sal
Aromas clássicos e brasileiros
- Em vez de baunilha: 1 fava de cumaru ralada (use com parcimônia: é potente)
- Raspas finas de limão-siciliano ou laranja
- 1 colher de sopa de café moído para infusão, ou 1 colher de sopa de cacau em pó peneirado
- 1 a 2 colheres de sopa de rum, cachaça envelhecida ou conhaque (adicione no final, fora do fogo)
Técnica passo a passo (sem erro)
Aqui está o modo de preparo numerado, com foco nas etapas-chave para uma textura sedosa e firme na medida.
Gelatina: hidratar e dissolver
- Se usar gelatina em pó: polvilhe 7 g sobre 3 a 4 colheres de sopa (30–40 ml) de água fria. Deixe hidratar por 5 a 10 minutos (bloom).
- Se usar folhas: deixe de molho em água bem fria por 5 a 10 minutos, até amolecerem. Escorra e esprema delicadamente antes de usar.
- Nunca ferva a gelatina: calor excessivo prejudica a gelificação.
Cozimento e resfriamento
- Em uma panela, junte o creme, o leite, o açúcar, o sal e a fava/sementes de baunilha (ou outro aroma sólido, como café/casca cítrica). Aqueça em fogo baixo, mexendo, até o açúcar dissolver e o líquido chegar próximo à fervura (70–85 °C). Não deixe ferver.
- Retire do fogo. Coe se tiver usado grãos de café, cacau ou raspas. Incorpore a gelatina hidratada: se for em pó, aqueça 10–15 segundos no micro-ondas para amolecer e misture; se for folha, adicione diretamente. Mexa até dissolver completamente, sem bater para não incorporar ar.
- Se for usar licor, adicione agora. Deixe a mistura repousar 5 minutos e, se formar espuma, retire com uma colher. Distribua em forminhas levemente untadas com óleo neutro ou em taças.
- Resfrie por 20–30 minutos na geladeira já cobertas, depois deixe gelar por 4–6 horas, até firmar.
Rendimento e tempo
- Rende: 6 porções de 120–140 ml ou 8 porções menores.
- Tempo ativo: 15–20 minutos
- Geladeira: 4–6 horas
- Tempo total: 4h30 a 6h30
Textura perfeita: ajustes e correções
Muito mole ou muito firme
- Muito mole: na próxima vez, aumente a gelatina para 8 g. Para salvar um lote já pronto, aqueça suavemente a mistura (sem ferver) até 50–60 °C, incorpore 1–2 g de gelatina previamente hidratada e dissolvida e redistribua nas formas.
- Muito firme/borrachuda: reduza a gelatina para 6 g e evite ferver o creme. Sirva o lote atual com uma calda mais líquida e ácida (maracujá, frutas vermelhas) para suavizar a sensação.
Desenformar sem medo
- Mergulhe rapidamente a base das forminhas em água morna por 5–10 segundos.
- Passe uma faca fina nas bordas, com delicadeza, e desenforme sobre o prato já com a calda.
- Sirva bem gelada para manter o brilho e a forma.
Coberturas, versões e harmonizações
Coulis e caldas
- Frutas vermelhas: 250 g de frutas + 3 colheres de sopa de açúcar + 1 colher de sopa de suco de limão. Aqueça 3–5 minutos, amasse, coe se preferir liso. A acidez equilibra a doçura do creme.
- Manga: 300 g de polpa madura + 1–2 colheres de sopa de açúcar + suco de meio limão. Bata e use cru para frescor.
- Maracujá: polpa de 3 maracujás + 4 colheres de sopa de açúcar + 2 colheres de sopa de água. Ferva 2–3 minutos até encorpar.
- Caramelo salgado: derreta 100 g de açúcar até âmbar, junte 100 ml de creme quente aos poucos, finalize com 1 colher de sopa de manteiga e uma pitada de sal.
- Chocolate: 120 g de chocolate meio amargo + 120 ml de creme quente; desmanche e sirva morno.
Versão sem gelatina animal
Agar-agar: firma mais e precisa de fervura para ativar. Para 750 ml de base, comece com 1,5–2 g de agar em pó. Dissolva no leite frio, leve ao fogo e ferva por 1–2 minutos. Junte o creme e o açúcar quentes, desligue e aromatize. A textura fica mais firme e menos cremosa que a versão com gelatina; ajuste para o seu gosto.
Dicas e variações
- Toque brasileiro: perfume com fava de cumaru ou finalize com calda de caju, goiaba ou cupuaçu.
- Balance sabores: mantenha a base moderadamente doce (70 g de açúcar) e use coberturas ácidas para contraste.
- Aparência impecável: peneire a base antes de porcionar e evite bolhas. Se aparecerem, passe um maçarico rapidamente na superfície ou estoure com palito.
- Servir com crocância: cubra com farofa de biscoito, praliné de castanhas ou uma tuile fina para contraste de texturas.
Salve a receita e conte nos comentários qual cobertura você vai usar — compartilhe sua foto marcando o blog!




